VENCENDO NUMA ERA DE INCERTEZAS – Texto de Flávio Botana, publicado na Revista Tecnologia Gráfica Ed. 83

23/11/2012 at 8:20 AM 2 comentários

Vivemos a Era da Informação!

Mas olhando estes momentos com olhos de empresário, e particularmente com a visão de um empresário gráfico brasileiro, poderíamos chamar também estes tempos como a Era da Incerteza.

Vivemos sendo bombardeados com informações que nos levam de um otimismo escancarado para um pessimismo trágico em alguns instantes, e vice-versa. São informações políticas, econômicas, tecnológicas e sociais que de alguma forma interferem no negócio da comunicação e, por conseguinte, no negócio gráfico e que portanto afetam as decisões que os empresários estão tomando neste momento.

E como se não bastassem os fatos, temos as análises dos fatos. Especialistas que enxergam uma sobrevida infinita para a indústria gráfica em seus diversos ramos e os profetas do apocalipse que enxergam o fim dos tempos de prosperidade da indústria gráfica em pouquíssimo tempo.

E o empresário precisando tomar as suas decisões estratégicas, as suas decisões de investimento e as suas decisões pessoais… em plena Era da Incerteza. E a questão básica não é somente tomar as decisões, mas sim tomar as decisões CERTAS, que permitam que o seu negócio sobreviva, seja rentável e prospere.

E para acrescentar, em anos de DRUPA, a maior feira gráfica do mundo, onde são apresentadas as novidades tecnológicas da indústria, este espírito de análise estratégica vem à tona e, para um grande número de empresários gráficos, é a hora de se repensar a estratégia de negócios.

Vamos então ver algumas informações recentes que de alguma forma interferem nas decisões estratégicas dos empresários gráficos brasileiros.

– Resultados do PIB do mundo no 1º trimestre de 2012:

A variação do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no 1º trimestre de 2012 em relação ao 4º trimestre de 2011 foi de 0,2%. Se compararmos com a Europa, que vem sendo considerado um continente em crise, os nossos índices são muito próximos. Temos a França com 0%, a Alemanha com 0,5%, O Reino Unido com -0,2% e a Espanha com -0,3%. A comparação com os Estados Unidos é bem mais desfavorável, pois eles cresceram 1,9%.

Uma outra análise que pode ser vista é a variação do PIB do Brasil no 1º trimestres de 2012 em relação ao mesmo período de 2011, que no nosso caso foi de 0,8%. Se compararmos com os países que compõem o BRIC mais a África do Sul temos um resultado nada animador. A China cresceu 8,1%, a Rússia cresceu 4,9%, a Índia cresceu 5,3% e a África do Sul cresceu 2,1%, segundo dados do Banco Mundial.

É um ponto preocupante pois a nossa indústria está muito amarrada ao desenvolvimento da economia e ao aumento do poder de compra pela população. Agora, para reforçar o aspecto da instabilidade da informação, lembro que em Outubro de 2011 foi realizado o 15º Congraf – Congresso Brasileiro da Indústria Gráfica, que tinha com o tema “Crescendo com o Brasil”, apoiado em informações que davam crédito á visão de um crescimento intenso e consistente do país nos próximos anos.

Esta é a incerteza econômica! E certamente se conversarmos hoje com especialistas em economia de diversas instituições não haverá um consenso sobre quais os destinos econômicos do país para os próximos 5 ou 10 anos.

– DRUPA:

Como disse Hamilton Costa no site da AN Consulting, esta foi uma Drupa que trouxe mais perguntas do que respostas. A consolidação da impressão digital em diversas áreas, com o seu aumento de velocidades e formatos foi marcante. A impressão híbrida esteve forte, o desenvolvimento conjunto de equipamentos pelos fabricantes tradicionais de offset e empresas de impressão digital e a apresentação impactante da Nanografia foram pontos fortes da feira.

O que não quer dizer que as tradicionais Offsets estiveram às traças. O mercado esteve também bastante agitado nesta área.

Tudo isso mostrou que esta feira foi feita muito mais para pensar do que para comprar. Várias opções, várias alternativas de negócio e nenhuma visão única, sólida e certa para ser a bússola do empresário para os próximos anos (leia-se próximos investimentos)

É a incerteza tecnológica!

– As mídias eletrônicas

A era da comunicação através de sua ferramenta maior, a Internet, provocou sérios danos à indústria gráfica. As notas fiscais vêm sendo substituídas pelas notas fiscais eletrônicas, os extratos e contas apenas nos meios digitais também crescem rapidamente; as tiragens das revistas e principalmente dos jornais se reduziram pois o leitor acessa as informações por meio eletrônico, os e-books concorrem com os livros de papel, as agendas eletrônicas e os tablets substituem as agendas de papel e por aí vai.

Acho que ninguém que tem contato com a indústria gráfica acredita que ela vai acabar, porém todos que têm bom senso nesta mesma indústria sabem que estragos acontecerão e que terão que surgir novos modelos de negócio para permitir que as indústrias gráficas continuem progredindo.

É a incerteza do mercado!

– China

Este imenso país tem sido um grande concorrente da indústria gráfica nacional em alguns segmentos. Com preços fantásticos, prazos longos em função da distância entre os dois países e apesar de em alguns casos terem qualidade duvidosa, os chineses, mesmo estando do outro lado do mundo, vem tirando o sono de alguns empresários gráficos. Discutem-se políticas para preservar a indústria nacional, avaliam-se as questões econômicas para encontrar saídas para esta questão, mas o fato é que parte dos nossos trabalhos estão sendo impressos lá.

É a incerteza da concorrência!

Estas questões todas são suficientes para preocupar todo o mercado gráfico brasileiro, mas o que menos vale a pena e “sentar e chorar”. As empresas têm que interpretar estes cenários e usá-los como pano de fundo para o seu planejamento estratégico que as fará não apenas sobreviver, mas também lucrar e prosperar.

E isto é possível!

No meu livro “Manual do Gestor da Indústria Gráfica”, publicado recentemente pela Senai SP Editora, cito a necessidade que os empresários tem de se preparar para as crises pois elas farão parte do cotidiano de nossas empresas. Algumas mais intensas, outras mais brandas; umas mais curtas, outras mais longas; porém a habilidade do empresário em se preparar para as crises e de montar planos para sair delas é fator crítico de sucesso para a garantia de um ciclo permanente de prosperidade para a empresa.

Outra publicação extremamente interessante que também trata deste assunto é “Vencedoras por Opção” de Jim Collins e Morten Hansen. Este livro trata de uma pesquisa que mostra quais foram as práticas de empresas em diversos ramos que as fizeram ter sucesso por um longo período de tempo (foram analisados 30 anos), mesmo atravessando períodos extremamente instáveis.

Baseado nestas duas publicações, arrisco delinear um perfil dos empresários que tendem a ter mais sucesso no nosso ramo que como já vimos trabalha com um nível de incerteza maior do que a média dos ramos industriais brasileiros.

Vamos enumerá-los

– Os vencedores serão os Consistentes

As empresas precisam ter a sua estratégia e seu foco. Está provado que empresas que mudam de foco com certa constância não conseguem se estabelecer.

Quando a empresa começa a ter sucesso num ramo de atuação é sinal que ela começou a entender o perfil de seu cliente, que conseguiu entender as suas necessidades e que se estruturou para atendê-las de forma satisfatória e lucrativa. Quando a crise chega, mais do que abandonar o que foi conquistado e partir para novas tentativas, é melhor entender o que mudou com o seu cliente. Mudaram suas necessidades, mudou a forma de atendê-las, mudou o mercado que o seu cliente atende?

O certo é que a possibilidade de fazer ajustes na sua empresa com o objetivo de preservar o seu cliente e preservar a sua atuação fará com que você a cada dia se torne mais conhecido pelas empresas que atuam neste ramo. A sua reputação vai sendo consolidada e a sua marca fica mais forte.

Além disso, é sempre importante perceber se as mudanças que estão ocorrendo são temporárias ou definitivas, pois dependendo deste fator as suas ações serão de contingência ou de transformação.

Tudo isto não quer dizer que a empresa não deva mudar. As empresas precisam mudar sempre. Porém o “eixo central”, se mantido, cria uma coerência que facilita a sua relação com seus clientes, fornecedores e funcionários. E esta coerência dá segurança a todos eles, o que os incentiva a preservar o relacionamento com a empresa.

Resumindo: seja conhecido no mercado pelas suas características básicas e mude sempre no sentido de reforçar estas características.

– os vencedores serão os “Não tão Ousados”

Existe um “senso comum” de que os empresários ousados são os bem sucedidos. Em seu livro já citado acima Jim Collins prova que as empresas mais bem sucedidas foram aquelas que trataram as suas inovações de forma sistêmica, isto é, analisaram com cuidado as inovações, fizeram testes piloto para checar a sua validade e só as lançaram de forma definitiva quando tinham uma razoável segurança sobre o seu sucesso.

A ousadia é importante, mas é diferente de aventura. Lançar um novo produto, um novo processo requer normalmente altos investimentos e no século XXI o mercado não dá muito espaço para grandes fracassos financeiros. É preciso ousar, mas com inteligência e cuidado.

– os vencedores serão os “Precavidos”

Num dos capítulos do meu livro cito a seguinte frase: “Sempre encontro um otimista nos tempos de crise, e isto é bom. No entanto, sinto falta de um pessimista nos tempos bons, para nos manter com os pés no chão”.

Acredito que ela representa exatamente o que quero dizer como precavido. Todo plano pode dar certo, ou não. Por mais empreendedores que sejamos, por mais otimistas que sejamos, por mais ousados que sejamos; nada é suficientemente certo que não exija a execução do “Plano B”.

Alguém na empresa tem que pensar que as coisas podem dar errado. E a empresa tem que se preparar para esta hipótese.

As perguntas chave deste processo é: “O que pode acontecer se as coisas derem errado?” e “O que faremos se der tudo errado?”

As empresas de sucesso devem esperar o melhor e se preparar para o pior. Nestas condições a possibilidade de surpresas diminui e a chance de um caminho seguro e consistente aumenta, mesmo quando nem tudo dá certo.

– os vencedores serão os “Estratégicos”

Atribui-se a Peter Drucker uma frase que diz que “Se você não tem uma estratégia, você é estratégia de alguém”.

Atualmente o empresário que não pensar de forma estratégica, com olhos no presente e no futuro; entendendo clara e conscientemente as necessidade atuais e futuras de seus clientes, com visão abrangente do mercado e da sua concorrência; e com um bom entendimento da sua relação com a comunidade e com o meio ambiente, tem uma chance de sucesso bastante reduzida.

A boa e velha matriz SWOT (Forças / Fraquezas / Ameaças / Oportunidades) e o Modelo das 5 Forças de Michael Porter ainda são metodologias extremamente adequadas para que as empresas estruturem as suas estratégias e tenham aumentadas as suas chances de sucesso.

 

E além destas características dos vencedores, existem algumas atribuições estratégicas que devem estar constantemente na agenda dos empresários gráficos e que devem, em tempos de crise, ser frequentemente revistas e aprimoradas. São elas:

1. Montar uma boa equipe

Esta é a atribuição principal do empresário. Uma boa equipe é a base de uma boa empresa. Uma boa equipe vai ajudar o empresário a tomar boas decisões nos tempos bons e nos tempos ruins. Uma boa equipe aumenta a visão, a percepção e a capacidade de raciocínio e de decisão do empresário.

Em meu livro, cito que o empresário não deve focar outra tarefa enquanto não estiver satisfeito com a sua equipe.

Uma boa equipe libera tempo para o empresário cuidar de suas outras tarefas.

2. “Viver a vida” do cliente

Acredito que entender o mercado de atuação de seus clientes é tão ou mais importante que entender o seu mercado de atuação. É lá que estarão as oportunidades, as ameaças e as informações que você precisa para pensar estrategicamente e tomar as suas decisões.

É função do empresário gráfico conversar com empresários-clientes para que, com base na estratégia deles, você consiga estruturar a sua.

3. Educar os seus funcionários

O empresário é acima de tudo um exemplo para os colaboradores de sua empresa. É importante que ele assuma este papel e ajude, num processo educacional, na formação de profissionais melhores.

A transmissão da cultura da empresa para os funcionários é feita principalmente através do que o empresário valoriza, o que ele critica e o que ele cobra. Portanto, o empresário tem que saber que ele está constantemente “na vitrine” e que deve se entender como um exemplo a ser seguido pela sua equipe.

4. Entender e preservar os Diferenciais Competitivos da empresa

Entender o porque os seus clientes te escolhem e entender porque os seus “não clientes” escolhem seus concorrentes é fator crítico de sucesso para a elaboração de uma boa estratégia.

Neste aspecto deve ser destacado que no ramo gráfico os diferenciais competitivos estão cada vez menos focados em tecnologia e processos, estando direcionados atualmente em recursos humanos e serviços.

Os empresários também devem ter em mente que diferenciais competitivos são temporários. A banalização do diferencial ou sua imitação por concorrentes fazem com que sua vida útil seja limitada. Logo, o empresário deve sempre entender e se preparar para a criação e renovação de seus diferenciais competitivos para se manter em destaque no mercado.

5. Administrar os investimentos da empresa.

Errar num investimento é um pecado cada vez mais grave no mercado gráfico, sendo que muitas vezes ele pode determinar inclusive o encerramento das atividades de uma empresa.

O empresário deve analisar com muito cuidado os seus investimentos. Precisa entender que investimento não é só equipamento. Investir em recursos humanos, em tecnologia de informação, em instalações e em ferramentas de gestão também devem fazer parte da estratégia de investimentos de uma empresa.

Acima de tudo, um investimento deve ser “a solução de um problema”. Devemos ter muito claro qual é o problema que queremos resolver, quais são as alternativas possíveis e, depois de muita análise, decidir o que fazer.

 

Enfim, como se pode ver no texto, não existe solução mágica para vencer em tempos de incerteza. O resumo do que foi escrito se define na palavra equilíbrio. Não inventar, não se desesperar e aplicar os conceitos de negócio que sempre levaram ao sucesso.

Inteligência Estratégica, Persistência e Pensamento Sistêmico foram e serão sempre bons conceitos para dirigir o sucesso atual e futuro das empresas.

Entry filed under: Gestão, Gráfica.

Por que algumas empresas prosperam e outras não? – Jim Collins (Fonte: www.hsm.com.br) Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica – Pós Graduação – Material de Apoio – Produtividade e OEE

2 Comentários Add your own

  • 1. J.C.Cardoso  |  23/11/2012 às 9:35 AM

    Muito bom seu artigo, Botana.
    Não à toa (mas por outras razões), Galbraith falava justamente n’A Era da Incerteza.

    Responder
  • 2. Dirceu Romualdo Sampaio Crocco  |  23/11/2012 às 2:02 PM

    Caro Bota, excelente e apropriado artigo. Usando conceitos explorados dentro do texto, você consegue fazer-nos refletir e ir em busca de meios para um empresário sobreviver no “mundo da incerteza”. É sempre contagiante ler uma abordagem exploradora mas que foge do sensacionalismo. Parabéns.

    Responder

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