Análise de Investimento: As nossas máquinas ficarão velhas ou obsoletas? – Texto Flávio Botana

08/02/2010 at 7:38 AM 1 comentário

O mundo gira cada vez mais rápido! E o mundo gráfico não é nada diferente. Temos sido bombardeados com uma série de informações que ampliam o leque de opções sobre o futuro do nosso ramo industrial. Vejam alguns exemplos:

– Impressão Digital x Impressão Offset: este tema não é exatamente recente, porém a cada dia se tem novas informações sobre produtos que se viabilizaram pela tecnologia digital; o conceito de tiragens viáveis está sendo constantemente revisto por conta desta nova tecnologia e dos implementos que a tecnologia offset vem fazendo para reduzir o setup das máquina e por conseguinte enfrentar melhor a ameaça da tecnologia digital; os produtos híbridos também se multiplicam tentando tirar o melhor dos dois mundos para fazer produtos diferenciados, etc.
O fato real é que, como me afirmou Hamilton Costa num encontro recente, todos os produtos gráficos, a menos das embalagens, já têm um similar digital.

– Novas opções para o cliente: até por conta do item anterior temos visto uma série de mudanças de ofertas aos consumidores que afetam profundamente o ramo gráfico. Vejamos alguns exemplos: a nota fiscal eletrônica se consolida forte e rapidamente e, mais cedo ou muito mais cedo, irá se tornar uma solução única; o DDA (Débito Direto Autorizado) lançado recentemente pelos bancos que reduzem a emissão de boletos e que já influenciam também e principalmente as empresas de impressão digital; as Publicações (Jornais e Revistas) pela Internet ganham adeptos e afetam as tiragens das publicações em papel; e tivemos recentemente o início das vendas do Kindle, o reader da Amazon que armazena 1500 e-books e que promete reestruturar o modo do mundo acessar seus livros.

– Rapidez dos avanços tecnológicos: Uma coisa que me chama muito a atenção é a velocidade com que os avanços tecnológicos saem dos laboratórios e chegam às nossas casas e/ou empresas. E impressiona também a velocidade com que esta grande novidade se torna jurássica! Vamos tomar como exemplo alguns itens que estão no nosso dia a dia: os laptops e os celulares. Não trocamos de aparelho porque eles ficam velhos ou porque quebram. Trocamos porque eles ficam obsoletos. E isso parece ser uma tendência, que obriga os fabricantes a terem produtos mais baratos e mais adaptados a um tempo de vida útil menor (reparem, por exemplo, que nitidamente dá para perceber que os materiais utilizados na fabricação dos celulares mudaram. E parece que a resistência não é a maior virtude destes novos materiais).

Tentando juntar os pontos…. temos tecnologias novas nos processos a todo instante, temos produtos novos também a todo instante e tudo muito rápido!!
As novas tecnologias levam a produção de novos produtos… e novos produtos demandam novas tecnologias… e tudo muito rápido, num mercado muito competitivo, com clientes muito exigentes… e tudo muito rápido!

A impressão que fica (que é quase uma certeza) é que a empresa que pretende jogar este jogo precisa estar absolutamente antenada nas tendências para o futuro com pessoal extremamente qualificado e com tecnologia up to date.

Ora, tecnologia up to date significa necessidade de investimentos e aí é importante a análise sobre uma outra ótica, que é a análise de investimento, pois de nada adianta as nossas empresas jogarem o jogo se o resultado disso não for o lucro.

Vou usar para esta análise a aquisição de um equipamento de impressão (mas a análise vale também para outros tipos de equipamento para a indústria gráfica)

Atualmente, dependendo do tipo de equipamento que desejamos adquirir, os volumes financeiros envolvidos podem atingir a marca de centenas de milhares ou até milhões de Reais. E o tempo de vida útil previsto é geralmente de 10 anos para efeito de depreciação gerencial, mas com a certeza de que o equipamento durará mais do que isso (15 anos é bastante aceitável, 20 anos… quem sabe).

Se pensarmos, no entanto, num equipamento de impressão digital, talvez 10 anos seja um tempo longo demais! O equipamento provavelmente estaria em boas condições até lá, mas a questão é que o tempo de vida útil do equipamento se esgotaria antes que isso por “obsolescência técnica”.

No meu blog (https://flaviobotana.wordpress.com) recebi um comentário de um vendedor de equipamentos dizendo que o seu cliente não encontrava uma boa utilização para um equipamento digital que foi comprado em 2004 e que na época era de última geração, pois ele já não atendia as suas necessidades.

Então, diante destas evidências eu me pergunto: será que não deveríamos começar a tomar mais cuidado nas análises de retorno de investimento para a compra de grandes equipamentos de impressão? (e acredito que também para pré-impressão e acabamento)

Será que daqui a 10 ou 15 anos a tecnologia que estou comprando hoje (e pagando caro!) será útil? Ou será que nossos equipamentos também vão começar a morrer por obsolescência técnica?

Quem serão os clientes da indústria gráfica em 2019? Quais serão os produtos demandados em 2019? Como estará a tecnologia em 2019?

Somente para ilustração, façamos um interessante exercício para dar subsídio para estes questionamentos que é olharmos 10 ou 15 anos PARA TRÁS, e ver o quanto o mundo mudou de lá pra cá. Em 1994 não tínhamos Internet disponível em larga escala; celular era coisa de alguns; a inflação era alta; poucas pessoas tinham computador em casa, começava-se a falar seriamente de terceirização, etc. A tecnologia era outra, a cultura era outra, os hábitos eram outros. Resumindo, o mundo era outro!

Nesse mar de questionamentos, precisamos tomar as nossas decisões baseadas em novos parâmetros. A análise dos investimentos têm que conter novas condições de contorno para que o resultado final não seja decepcionante, ou trágico. Algumas novas visões são necessárias. E quero falar sobre 2 delas:

1) A forma de calcular o retorno dos investimento precisam mudar

Num artigo publicado na revista HSM Management os autores Rita Gunther MacGrath e Ian C. MacMillan (“Tempo de Replantio” – Edição no. 76) analisam a idéia das empresas reverem suas empresas, desfazendo-se de negócios e práticas que deixam a desejar. Mas o que me chamou a atenção neste artigo foi a forma como eles sugerem a avaliação de novos investimentos. Eles apresentam dois aspectos que me parecem interessantes e aplicáveis nas nossas análises de retorno de investimento na compra de equipamentos.

1º aspecto: É preciso pensar em quanto tempo pode-se esperar para desfrutar uma vantagem competitiva antes que os concorrentes reajam e/ou o mercado mude. Muitas pessoas supõem que as vantagens de um investimento serão mantidas indefinidamente, o que cada vez menos é verdade.

Isto mostra que as análises de investimento que mostram vantagens apoiadas principalmente em aspectos externos (ganhos provenientes de aumento no faturamento, ou aumento na fidelização de clientes, etc) são temporárias pois o mercado e a concorrência reagirão a elas. Logo, a tendência é que haja o ganho por algum tempo e depois ele tende a se reduzir. Se levarmos isso em conta, iremos valorizar os investimentos de retorno mais rápido.

2º aspecto: Os autores do artigo sugerem também que ao se avaliar o investimento total, que seja estabelecida uma taxa de desconto, com o intuito de levar em conta o grau de risco do investimento. Quanto mais arriscado o investimento, maior a taxa de desconto. Isso significa que a oportunidade deve ser incrivelmente interessante.

Reparem que este aspecto, assim como o anterior, valoriza os investimentos de retorno mais rápido. E isso tem uma grande coerência com um mundo que se tranforma na velocidade que temos acompanhado. Como as variáveis se transformam rapidamente, temos que procurar o retorno dos investimentos da forma mais rapida que conseguirmos para estarmos preparados para nos atualizar, nos transformar fazendo novos investimentos que dêem sustentação a estas constantes transformações.

2) O tempo de retorno do investimento precisa ser menor

Reparem que o item anterior tende sempre a “penalizar” o retorno dos investimentos, levando a um aumento no tempo do payback e por conseqüência a um desestímulo aos investimentos que não tenham um retorno rápido.

Reparem também que esta alteração está em completa sintonia com um mundo onde as tecnologias e os produtos mudam rapidamente, pois se meu investimento em equipamentos demorar muito a retornar, corre-se o risco de que o produto ou serviço agregado a ele deixe de ser atrativo ao mercado antes que o investimento se pague.

E aí, por todas estas questões a palavra “obsolescência” começará a tomar corpo nas nossas organizações. Paulatinamente, as nossas decisões precisarão levar em conta este aspecto com a mesma importância que hoje tem os custos de manutenção e os valores que envolvem a produtividade do equipamento.

Algumas “tradições” das nossas análise terão que ser descartadas, por exemplo:

– “As máquinas vão durar muito e serão úteis em toda a sua vida útil”. Acredito que a obsolescência técnica junto com o grande número de lançamentos de novidades tecnológicas farão com que peças de reposição e insumos específicos de máquinas mais antigas serão cada vez mais raros e caros, o que será um incentivo a mais para que se troque o equipamento em vez de reforma-lo ou melhora-lo.

– “Conseguirei vender a minha máquina usada facilmente e por um bom preço”. Já se tem visto um efeito no mercado de equipamentos usados, e acredito que os problemas só tendem a aumentar com o tempo. Será cada vez mais difícil encontrar alguém que queira uma máquina desatualizada, com peças e insumos caros e para fazer produtos que já não atendem o mercado por um preço fora dos padrões.

– “Esta será uma novidade difícil de ser imitada”. Acho que este é um ponto já repetidamente abordado. Em todos os planos do mundo empresarial a imitação é fato. Desde a imitação de produtos até a busca das melhores práticas, a imitação passou a ser ferramenta de gestão.

Portanto, temos a certeza que também neste aspecto da gestão que envolve a análise de investimentos futuros não existem mais lugares para amadores. E para ajudar neste processo de “profissionalização” dos analisadores de investimento vão a seguir algumas sugestões para melhorar a qualidade da sua análise:

– Conheça profundamente o equipamento: não se pode analisar corretamente o que não se conhece. Vale a pena perder um tempo inicial para entender exatamente sobre o que estamos falando. Quais são as características do equipamento em questão, quais são seus diferenciais, seus problemas; falar com alguns usuários que já o utilizam, etc.

– Não tome decisões precipitadas, nem sob pressão: muitas vezes para ganhar tempo é preciso ir devagar. Existe uma tendência ( e concordo que isso pode ser um preconceito meu ) de que sempre que te cobram uma decisão instantânea, é porque algo não está muito bem claro mas interessa a alguém que você decida assim mesmo. O fato é que se você não estiver seguro, adie a sua decisão. Decisões de investimento em sua maioria não precisam ser feitas às pressas.

– Não tome decisões apoiadas em apenas algumas opiniões. Todas as informações devem ser entendidas, checadas (com pelo menos duas fontes diferentes) e comprovadas.

– Conheça as tendências do mercado. Converse com especialistas para entender as tendências do mercado. Leia muito. Lembre-se sempre que o resultado de sua decisão de hoje aparecerá no futuro. E você precisa ter a melhor visão possível desse futuro. Existem bons profissionais que têm como atividade principal analisar tendências, e é sempre bom ouvi-los antes de tomar suas decisões de investimentos.

– Esteja absolutamente antenado nas necessidades atuais e futuras dos seus clientes, para que eles dêem suporte ao investimento que está sendo feito, sendo seu parceiro nesta jornada. Afinal de contas, é ele quem vai (ou não) ter dar o dinheiro para pagar os seus investimentos e para garantir o lucro de seu negócio

– Entenda de finanças: eu sempre digo que, quanto mais importante você fica numa empresa, menos você fala de questões técnicas e mais você fala de dinheiro. É inevitável!

– Acredite na mudança, goste dela e leve-a sempre em consideração para as suas decisões. Vivemos e viveremos num mundo em constante mutação e precisamos aprender a gerenciar os nossos negócios neste ambiente.

Antes da minha conclusão gostaria de comentar que os vendedores de equipamento podem achar que este artigo está aqui para atrapalhar os seus negócios. De certa forma, é verdade! Porém, acredito estar mostrando aqui uma grande oportunidade para empresas e vendedores que realmente estão dispostos a assessorar os seus clientes e têm produtos / serviços compatíveis com os novos tempos que estão aí. As empresas estão aprendendo que precisam investir para resolver os problemas atuais e futuros de seus clientes, em vez de comprar soluções “fantásticas” e sair correndo atrás de quem tem um problema ao qual aquela solução atenda.

O fato é que o mundo dos negócios, e particularmente o mundo gráfico atravessa um momento de grandes transformações, que vão mexer com toda a estrutura do nosso ramo, desde os modelos de negócios, passando pelos sistemas de gestão e chegando aos processos industriais. E sempre dentro de um ambiente de recursos escassos. Logo, quem souber utilizar estes recursos de forma inteligente e eficaz terá vantagem competitiva para sobreviver e prosperar neste ambiente.

Que venha o futuro!


Flávio Botana é consultor da Geográfica Editora Ltda e Professor de Graduação e Pós Graduação da Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica

Matéria publicada na Revista Tecnologia Gráfica edição no. 70

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